quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Vera Fernandes, a karateca que virou corredora...

 - Para quem ainda não a conhece, quem é a Vera Fernandes e qual é a sua especialidade no mundo da corrida?

Sou atleta no clube Associação Académica da Belavista, um clube pertencente ao concelho de Lagoa no Algarve. 

Vivo em Portimão....

Gosto de pensar em mim como fundista porque os meus melhores resultados aconteceram em provas de fundo como a meia-maratona e a maratona.

Não me considero especialista em nenhuma modalidade até porque comecei a correr tarde, com 27 anos. 

- Como se iniciou e quais as razões para escolher este desporto?

O atletismo foi um acaso do destino na minha vida.

Eu nunca considerei praticar atletismo por iniciativa própria.

Sempre gostei de correr e fiz jogging ao fim-de-semana durante muito tempo, mas foi quando me mudei para o Algarve e comecei a treinar num ginásio que tinha um grupo de corrida (Village Runners) que comecei a correr com mais regularidade e também onde participei pela primeira vez numa competição de estrada. 

A partir daí aconteceu tudo tão rápido que nem sei bem como aconteceu. 

A AABV propôs-me correr em nome do clube e deu-me acesso à pista de atletismo e eu comecei a treinar e a competir. 

Obtive bons resultados  e alimentei o bichinho da competição inato em mim. 

Eu não escolhi este desporto, mas este desporto conquistou-me porque me continua a desafiar e me permite procurar uma versão melhor de mim própria a cada dia. 

É um desafio constante e eu gosto disso e por isso eu fico. 

Enquanto assim for eu não me vejo a deixar a modalidade. 

- Pelo que julgo saber, antes de começar a sua carreira no atletismo praticou vários anos karaté. 

Sim, eu comecei nessa modalidade aos 12 anos. 

No Karaté criei todas as minhas bases e posso afirmar que a modalidade moldou toda a minha personalidade. 

Considero que foi muito importante para mim e estou muito grata por ter tido a oportunidade de aprender tudo o que aprendi no Karaté. 

Essa modalidade transmitiu-me valores importantes acima de tudo para além de me ter preparado fisicamente. 

-Porque mudou de desporto e o que o karaté a ajudou no atletismo?

Eu pratiquei Karate durante cerca de 14 anos. 

Participei na modalidade em campeonatos nacionais e estágios a até estive presente no campeonato do mundo do estilo Wado em Tokio, no Japão em 2005. 

Obtive a graduação de cinturão negro com o meu mestre Luís Santos, uma excelente pessoa cujo trabalho merece ser valorizado pela importância e o impacto que tem na vida e na aprendizagem das crianças, dos adolescentes e até dos adultos. 

Graduei-me como 1ª DAN com o mestre Barry Wilkinson, obtive a carteira de treinador monitor nível III pela Federação Portuguesa de Karate, mas acima de tudo eu fiz uma família, partilhei momentos de alegria e de tristeza, criei laços de amizade e lealdade para a vida. 

Ao mudar a minha residência eu não poderia simplesmente iniciar a modalidade noutro local com outra "família". 

Tudo o que eu aprendi veio comigo, quem pratica a modalidade entende que não é apenas um desporto, é uma forma de estar na vida e isso ficará comigo para sempre, mas iniciar a competição com uma equipa diferente nunca foi opção para mim. 

Todas as bases que o Karate me deu me ajudam no atletismo, mas não só, ajudam em todas as situações da vida. 

O karate incute aos seus alunos a formação de carácter e do autoconhecimento, fidelidade a princípios, espírito de sacrifício e acima de tudo o respeito. 

Estes valores fazem falta na sociedade e infelizmente nem todos têm acesso à sua aprendizagem. 

Felizmente eu tive, através do Karaté. 

- Vive exclusivamente do atletismo ou tem outro tipo de ocupação?

Não. O atletismo é um hobbie. Eu trabalho.  

- Costuma participar em provas de corrida de rua? Como vê o atual boom de provas e atletas amadores a participar em corridas de rua, com especial ênfase para as cada vez mais mulheres que vemos a correr? 

Sim, foi numa corrida de rua que comecei a correr com a meia maratona de Lisboa. 

A corrida está na moda, é um facto....

Isso é positivo porque leva as pessoas a mexerem-se e combate um pouco o sedentarismo. 

Eu penso que tanto vemos mais mulheres a correr como homens, mas talvez porque as mulheres apenas começaram a correr mais recentemente se dê mais ênfase a elas. 

As corridas de rua fazem um pouco o trabalho das Associações Regionais porque põe as pessoas a mexer e muitas vezes até levam atletas às Associações. 

Eu penso que nesse aspeto existe muito a melhorar em Portugal.

Se queremos que o atletismo seja significativo não podemos deixar o trabalho de captação para estas entidades. 

Existem falhas no sistema de captação de atletas. 

Eu posso ser um exemplo disso, porque não? 

Talvez se na minha escola alguém me tivesse chamado a experimentar o atletismo eu até poderia ter seguido por essa via. 

Mas foi apenas na corrida de rua e já com 27 anos que eu encontrei a modalidade. 

- Qual é a sensação de representar a seleção Nacional em eventos internacionais?

Eu representei a Selecção Nacional uma vez, no campeonato da europa de corta-mato. 

Não foi algo que eu planei, aconteceu...

Eu tinha começado a praticar atletismo há 3 anos quando isso aconteceu e por isso para mim foi uma surpresa e também uma grande motivação para permanecer na modalidade. 

Representar a selecção é uma grande responsabilidade na minha opinião. 

Eu sou bastante patriota e por isso encarei o desafio com seriedade e fiz o melhor possível para uma atleta que já se iniciou no atletismo no escalão sénior e que com apenas 3 anos da modalidade é chamada a essa responsabilidade. 

Apesar de ter noção da diferença do meu nível para as restantes atletas eu não queria ficar em último e desistir nunca me passou pela cabeça. 

Fui 61ª, mas não tivemos resultado coletivo porque apenas 3 atletas terminaram a prova nesse ano. 

- Por vezes pensa-se que ser atleta de alta competição é uma vida de grandes facilidades... Explique a quem tem essa ideia como é para si uma semana normal de treinos?

Eu não sou atleta de alta competição, mas duvido muito que seja uma vida de facilidades. 

Se para mim não o é, para um atleta a tempo inteiro será ainda mais difícil. 

Exige privar-se de muitas coisas, ultrapassar muitas dores físicas e emocionais muitas vezes apenas para não obter o resultado desejado apesar de todo o esforço. 

Para mim, uma semana normal de treinos pode variar muito porque vou ter de ajustar a minha recuperação regularmente, mas para um atleta de alta competição acredito que leve o corpo muitas vezes ao limite e que o sofrimento seja muito maior. 

- Qual foi o feito que mais se orgulha desde que pratica atletismo e porquê?

Tenho orgulho de ter sido seleccionada para representar o movimento ASICS FrontRunner e fazer parte da equipa portuguesa.

Este movimento inspira as pessoas a seguirem os seus sonhos e objetivos através do desporto e fá-las saírem do sofá e permanecerem ativas ao mesmo tempo que cria um espírito de equipa, união e companheirismo. 

Não é um movimento discriminatório, pelo contrário, une atletas de todos os níveis desde amadores a profissionais em cerca de 30 países diferentes. 

Uma forma interessante de promover o desporto e a saúde. Se quiserem dar uma vista de olhos no meu Blog aqui têm o link (https://www.asics.com/pt/pt-pt/frontrunner/profile?key=42864)

- Qual o conselho que dá aos jovens e crianças que agora estão na idade de "escolha" do seu desporto de eleição, para escolherem o atletismo?

O que eu lhes digo é que experimentem....

Dêem uma oportunidade à modalidade....

Experimentem um pouco de tudo o que há para fazer no atletismo, desde saltos, obstáculos, lançamentos, etc e se encontrarem algo que os cative continuem e permaneçam. 

Se pelo contrário, nada os cativar experimentem outras modalidades de que gostem mais, mas acima de tudo mantenham-se ativos e façam desporto. 

- Quais são os seus grandes objetivos para 2019?

2019 começou para mim como um ponto de viragem. 

Eu descansei e iniciei um novo ciclo com um novo treinador ( Nuno Afonso).

Este ano eu tenho objetivos muito específicos que passam por melhorar os meus recordes pessoais nos 5000m e 10000m. 

São desafios que me propus e para os quais já estou a trabalhar. 

Se pretenderem seguir a minha evolução podem sempre ver a minha conta do instagram @vera_fernandes_atleta.

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